quarta-feira, 23 de março de 2011

A solidão é nosso strip-tease

     
     Schopenhauer costumava dizer que na solidão era a única forma do indivíduo realmente se conhecer, se mostrar, ser ele mesmo. E ainda afirma que quem não ama a solidão não ama a liberdade.
     A pergunta é, até que ponto essa liberdade compensa a solidão? Concordo no ponto em que o amigo Schô schô (como diz uma amiga), fala que é a única maneira do ser se mostrar. Acredito que as grandes multidões o afastam dele mesmo. Claro que não acontece com todos, não é uma regra, e mesmo que fosse, todas elas têm suas exceções.   
     Mas acontece com a grande maioria. Afinal, quem consegue ser você mesmo, sem inclinações mascaradas, sem sorrisos falsos e gostos fingidos para agradar alguém?  
     Pode até dizer que você não é assim, eu mesma digo que não sou, mas duvido que tenha falado a verdade à sua tia de 70 anos sobre homossexualidade ou sobre drogas, que tenha olhado nos olhos da sua avó e falado que o seu cozido estava horrível naquele dia. Duvido.
     Não é questão de hipocrisia, muitas vezes essas “mentirinhas” são necessárias, afinal de contas você não vai desagradar uma senhora de 80 anos desnecessariamente, porque por mais idealista que você seja, acredita que com essa idade nada mais será alterado, nenhum pensamento, nenhuma convicção religiosa ou política, somente desgastes acontecerão.
     Mas você também tem a opção de falar e criar aquele clima na família, tem a escolha de optar pelo cigarro que seu namorado não suporta e perdê-lo, tem a opção de desistir da faculdade mais cara da sua cidade bem no final do curso e perder o amor dos seus pais (pelo menos por uns 3 meses), mas quem tem a coragem de fazer essas escolhas? Quem tem a coragem de ser você mesmo, sem as lantejoulas que enfeitam a máscara que tanto agrada? Quem tem?
     Mas sozinho você não precisa se moldar tanto, não precisaria de frases bem pensadas ou sorrisos talhados. A solidão é o nosso strip-tease. Então, o amigo Arthur, apesar do seu pessimismo característico, não estaria tão equivocado ao falar que sozinho cada um sente o que é, e fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade.
      Então, faça o seu strip-tease de máscaras e brilhos sem precisar estar tão sozinho, seja a sua própria essência sem o medo de ficar insosso. E se estiver só, não se preocupe em escolher a fantasia mais atraente, talvez você queira curtir a festa sendo a sua própria companhia dentro de um vestidinho bem confortável.


     Abaixo, alguns trechos na íntegra da obra - “Aforismos para a sabedoria de vida”  
                                  Quem não ama a solidão não ama a liberdade 

   
      “Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas.
        Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas ações, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo.
     Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.
     A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é...”
                                                                       Arthur Schopenhauer

4 comentários :

  1. Putz concordo demais que a solidão nos despe das máscaras da sociedade. Não é fácil ser autêntico na atual sociedade. Mas, também em relação a relacionamento amoroso não concordo com anulação extrema. Porque aí você perde totalmente a individualidade.
    Enfim, penso assim...risos
    bjo
    Jana

    PS: Ah, gostei demais do blog uma simpatia.

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  2. Ah, obrigada, que bom que gostou.
    E também concordo com vc em relação essa anulação nos relacionamentos. Vivo falando isso.
    Bjs e obrigada por seguí-lo, Janaína.

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  3. Adorei Vanessa. Voce manda demais! Aborda questoes e pontos que no corre corre da vida não paramos para perceber e analisar. Precisamos de bloqueiros e bloqueiras assim para nos ajudar a refletir sobre o que somos e como agimos, porque muita das vezes não há tempo

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